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"ler é a arte do conhecimento;seguir é a arte da sabedoria".

sábado, 14 de novembro de 2009

VIDA SEM NOME

Pele clara, olhos puxados, cabelos longos, lisos e enrolados, com um semblante tímido e misterioso.
Toda manhã acorda e faz uma oração – dessa vez ela pediu para que seja somente feliz. Ela ainda acredita que existe um Deus por isso ora pela manhã- mas já não tem fé.
Nota-se que sua ingenuidade e beleza escondem um pretérito inexprimível.
A vida dessa mulher, na qual muitos a conhece por sem nome, teve como palco do viver um campo de batalha. Sua esperança ficou presa num campo de concentração.
Lágrimas não mais dispõem em seus olhos. Olhos secos e marcados por noites sem dormir. Ela não sofre de insônia. Sofre da pura inocência de ter nascido em plena miséria. É claro que não tem culpa, mas nem por isso ficará imune de sofrer as conseqüências da solidão, fome, sede, tristeza e sofrimento.
A sem nome expia o pecado para que exista o rico, o corrupto, o político. Caso a sem nome não existisse... Eles também não existiriam. Pois quem irá classificar a questão da sobrevivência? Quem iria tratar as pessoas como números?
Sem nome, tem um nome, mas por que dizê-lo? É obvio que não tem motivo algum para se revelar o nome. Ninguém é tratado e respeitado pelo nome. A pessoa é o que é pelos números.
É o número do RG, CPF, carteira de Habilitação, do título de eleitor e o mais respeitado dos números são aqueles que estão na casa dos milhares correndo pelos bancos financeiros – esse número é o mais respeitado de todos. Não se pode deixar de lembrar que sem nome consegue viver apenas com os números da casa das unidades- um real para comprar o pão, durante um dia, apenas uma refeição, um vale transporte para trabalhar e uma alegria no sonhar.
A vida da sem nome é assim. Quando chega a noite, pensa – ainda tem esse direito – que tudo isso acontece porque o divino deseja. É a cura para a indignação e o conformismo que se estabelece no coração da sem nome é o combustível para que a necessidade dos números seja mais evidente.
Sem nome tem um nome. Sem nome tem um número. Mas para o mundo ela é apenas um fruto da terra que se quiser sobreviver em pleno sertão da miséria, tem que regar sua vida com as lágrimas derramadas e as noites más dormidas.
Escrito por Celso Oliveira

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